Em expedição de 3 anos, casal visita todos os 75 parques nacionais brasileiros: 'Experiência transformadora’

  • 07/11/2024
(Foto: Reprodução)
Aventura pelos biomas brasileiros foi feita com recursos próprios. Objetivo foi aumentar a divulgação e documentar informações sobre áreas naturais protegidas. Paruqe Nacional de Ubajara, no estado do Ceará Arquivo pessoal Um projeto ambicioso feito de trailer, carro, barco, avião, caiaque, bicicleta e a pé. Três anos, pouco mais de 100 mil km e seis terabytes de fotos. Essas são algumas estatísticas da expedição feita pela psicóloga Letícia Alves e o economista Dennis Hyde pelos 75 parques nacionais espalhados pelo Brasil, concluída no dia 18 de outubro. Moradores de São Paulo (SP), o casal deixou o trabalho e iniciou a jornada em 5 de junho de 2021, no Dia Mundial do Meio Ambiente. O primeiro local visitado foi o Parque Nacional do Itatiaia e o último, o de Fernando de Noronha. "Meu mundo hoje está maior, porque me relacionei com seres humanos e não humanos de diversas partes do país... Poder identificar um bicho, chamar uma árvore pelo seu nome, essa familiaridade com o mundo natural é algo que eu não tinha em São Paulo. Isso é muito importante”, diz Letícia, de 39 anos. A ideia de fazer a expedição surgiu em 2018, após uma viagem de férias aos parques nacionais da Serra da Capivara (PI), Serra das Confusões (PI) e Chapada das Mesas (MA). “Depois dessas férias, a gente voltou muito transformado pelas belezas e pelas ameaças que vimos, tanto dentro dos parques quanto no entorno” diz Dennis, de 44 anos. Pensando em quantas férias seriam necessárias para conhecer todos, o casal se deu conta que o projeto levaria mais de três décadas e o receio de não ter tempo suficiente falou mais alto. Parque Nacional da Chapada Diamantina, localizado na Bahia Arquivo pessoal “Se a gente ficasse fazendo isso ao longo da vida, nas férias, talvez a gente não conseguisse visitar todos porque eles podem não estar mais estar lá’. E gente queria contribuir de alguma forma com eles, então foi meio que um chamado”, completa o economista. A baixa quantidade de visitantes nos parques e a falta de informação sobre eles na internet também os motivou a agir. Assim nasceu o projeto “Entre Parques BR”, que tem como objetivo ampliar a divulgação das áreas de proteção e com isso atrair visitantes e investimentos para elas. A iniciativa conta com site, perfil no Instagram e um canal no YouTube. “77% das 11,8 milhões de visitas a parques nacionais em 2023 foram concentradas em apenas 5 parques nacionais. O potencial de atração de visitantes de forma ordenada é imenso e pode gerar 174 mil empregos diretos, além de R$ 18,1 bilhões de PIB”, calcula Dennis. Atualmente, os dois são embaixadores de iniciativas como Um Dia no Parque, da Rede Brasileira de Trilhas, do aplicativo eTrilhas e do programa Monitora do ICMBio. Outros projetos como o instituto devem ser pensados nos próximos meses. Casal começou a viagem pelo Parque Nacional do Itatiaia, na região Sudeste Arquivo pessoal “E agora estamos nesse passo de organizar o que fazer com toda essa informação, mas uma certeza é que a gente não vai mais sair dessa posição. Porque é muito importante, é um privilégio enorme e uma responsabilidade enorme também falar sobre os parques”. Ecoturismo e informação Sem fins lucrativos e feita com recursos próprios, a expedição percorreu todos os estados (exceto o Alagoas, que não possui nenhum parque nacional) e biomas brasileiros, ficando cerca de 15 dias em cada parque. Ao todo, foram percorridos 90 mil km de carro e trailer, 10 mil km de barco e 3,4 mil a pé e em meios não motorizados. Para organizar as informações sobre cada área, eles registram no site as atividades e atrativos, características naturais, reconhecimentos recebidos pelo local, infraestrutura disponível, história dos biomas, curiosidades, além de muitas imagens de paisagens, animais e plantas. Parque Nacional das Cavernas do Peruaçu, em Minas Gerais Arquivo pessoal “A gente emprestou nosso olhar, nossos recursos, nosso tempo para falar sobre os parques. Então, para ficar interessante, tem que vivê-los por inteiro. Depois que a gente saía de um parque, a gente sentava na frente de uma câmera e gravava um tipo de diário”, relata Dennis. Nos diários, o casal reuniu aprendizados sobre o parque, as pessoas que conheceram, expectativas, impressões finais, pesquisas, checagens de espécies com cientistas e tudo que pudessem reunir de informação para um potencial visitante. Aprendizados Ver, aprender, conhecer animais e plantas novos, descobrir novas culturas e o modo de vida de ribeirinhos, quilombolas e indígenas. “Aprendemos com o mundo natural e com as pessoas que estão envolvidas com o mundo natural. E a gente precisa, de alguma maneira, entender quem somos nós agora e quais vão ser os próximos passos”, diz Letícia. Expedição começou em junho de 2021 e terminou em outubro de 2024 Arquivo pessoal “Por exemplo, no ciclo da água, todos os parques que estão ali na Amazônia, sendo responsáveis por, através da floresta, fazer a evapotranspiração para que os rios voadores cheguem no Cerrado para abastecer as nascentes, e a mesma água que vai inundar para o Pantanal e eventualmente chegar aqui no Sudeste e no Sul. É impossível a gente dizer qual é o nosso favorito, porque eles realmente precisam de si”, explica Letícia. Para o casal, é impossível escolher um parque favorito porque é a relação entre eles que se destaca: as características únicas de cada um formam um conjunto belo e harmônico. Os viajantes contam que há parques com muito avistamento de fauna, outros com vegetação exuberante, outros cheios de cachoeiras, outros onde a vida marinha encanta e por aí vai. “No final das contas, eu acho que é muito mais uma questão de do que você gosta, qual é o desejo do visitante, porque a gente garante que tem para todos os gostos”, completa. Saúde mental e natureza Como psicóloga, Letícia estuda temas ligados a ecopsicologia e conta que aprendeu com seus pacientes que o contato com a natureza “nos abre para análises mais profundas, seja individual ou coletivamente”. “Ao longo das últimas décadas, a gente vê como se fosse um divórcio entre o mundo natural e os seres humanos, como se a gente não fizesse parte desse grande grupo de seres que habitam o mesmo planeta, a mesma casa. E isso traz uma série de repercussões para a nossa psique e para o nosso bem-estar”, afirma citando o crescimento do número de artigos que associam o contato com a natureza à redução dos níveis de cortisol no corpo. Parque Nacional da Serra da Bodoquena Arquivo pessoal Outro efeito dessa aproximação com o mundo natural, segundo ela, está na perspectiva de que é possível se sentir menos sozinho ao entender que compartilhamos e devemos cuidar do lar que dividimos com seres humanos e não humanos. E esse lar diz muito sobre como anda a saúde mental de quem habita nele. “Se esse espaço é muito confuso, muito sujo, isso é um indício de que talvez essa pessoa não esteja tão bem, né? Pensando na primeira casa, no ambiente ali dela. E quando a gente extrapola isso pra nossa casa comum, que é o planeta Terra, é algo que também dá indícios sobre a saúde mental dos seres que estão aqui habitando esse planeta”, comenta. Apesar dos desafios e da ansiedade que vem do dever de cuidar do planeta, ela afirma que é preciso se atentar para não cair na paralisia. “Mas que a gente possa ter o que alguns pesquisadores chamam de esperança ativa, que a gente possa se movimentar e se colocar do lado do agente transformador, se colocar do lado da solução”, finaliza. Parque Nacional de Ilha Grande, entre o Paraná e o Mato Grosso do Sul Arquivo pessoal Dicas para aventureiros Para quem tem interesse em viajar para um parque nacional ou outro tipo de unidade de conservação, o casal dá algumas dicas que podem ajudar o visitante a curtir mais o passeio e até a escolher bem destinos e opções de estadia. Reservar um tempo para o não planejado: deixe um ou mais dias sem nenhum planejamento. “Deixa o parque te convidar pra fazer algumas atividades que talvez você não pararia pra pensar que você faria, que elas existiriam, ou, de repente, você quer refazer uma trilha, voltar numa cachoeira, rever alguma espécie. Se puder e for permitido, durma no parque: para Dennis, dormir no parque é transformador, porque a conexão com a natureza será muito maior por questões como luminosidade, mudança da temperatura, mudança dos sons e dos os cheiros. Tentar conhecer ao menos um parque nacional ou outra unidade de conservação em cada bioma: para Letícia, fazer isso dá a possibilidade de entender sobre a biodiversidade do país e entender as diferenças culturais. VÍDEOS: Destaques Terra da Gente Veja mais conteúdos sobre a natureza no Terra da Gente

FONTE: https://g1.globo.com/sp/campinas-regiao/terra-da-gente/noticia/2024/11/07/em-expedicao-de-3-anos-casal-visita-todos-os-75-parques-nacionais-brasileiros-experiencia-transformadora.ghtml


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